Posso me sentar?

- Olá posso me sentar?
- Pode, mas... Você é quem, mesmo?
- Sou o homem que saiu da caixa, ué!
- Ah, sim claro sente-se. Não havia te reconhecido.
- Você nunca me reconheceu, nunca tomou ciência de mim.
- Hum... Veio brigar?
- Não! Desculpe-me, queria apenas falar.
- E sobre o que quer falar?
- Não quero um tema, quero apenas falar e falar e falar...
Aliás, isso de ter tema, de ser premeditado já é uma coisa que eu não gosto mais, por que sempre premeditei tudo, na intenção de controlar e em determinado momento tudo foge ao meu controle, porque as coisas não dependem só de mim e quando premedito, crio expectativas que não atendidas me frustram, e lido muito mal com frustrações.
- Acho que todos lidam mal com frustrações.
- Ouvi dizer que nem todos, pois a vida é feita de momentos bons e não bons, precisamos entender e aceitar que não dá para ganhar todas.
- E você aceita?
- Claro que não por isso me frustro.
- E por que você não aceita, já que entende?
- O porquê de eu não aceitar, é porque na teoria é simples, mas controlar sentimentos não é simples.
- Há, e você é a pessoa que gosta de controlar e não consegue controlar.
- Está brincando comigo? Estou me abrindo e você sendo redundante.
- Eu redundante, observe bem quem é redundante aqui.
- Posso concluir?
- Claro, prossiga.
- Já até me perdi. Há lembrei...
Eu não aprendi a lidar com as frustrações, por esse motivo eu premeditava, tentava manipular tudo, para minimizar os riscos de fracasso e potencializar o êxito.
- E não dava certo?
- Em partes sim.
- Por quê?
- Porque na verdade eu já sabia o final, é chato ler um livro, ver um filme que sabemos o final, era seguro para mim, mas não era real, pelo fato do desfecho ter sido manipulado.
- Mas do que exatamente você está falando? Nos negócios é bom minimizar os riscos e premeditar o sucesso, não é?
- Sim, ou não. Eu estou falando da minha vida.
- Há... Complexo isso.
- É
- Continue.
- Não, já comecei a manipular, depois eu volto.