
Conta-se que havia um rei muito rico chamado Midas.
Embora possuísse muitas riquezas, ainda assim não estava satisfeito.
Mantinha seu tesouro guardado em enormes cofres nos subterrâneos do palácio, e passava muitas horas por dia contando e recontando seus preciosos bens.
Tinha também o rei Midas uma filha, seu nome era áurea, a quem ele muito amava e desejava ardentemente transformar na mais rica princesa do mundo.
A pequenina, porém, não se importava com a riqueza do pai.
Ela gostava, em verdade, de seu jardim, das flores e do sol.
Passava a maior parte de seu tempo sozinha, pois seu pai estava sempre ocupado, buscando novas maneiras de conseguir mais e mais ouro, nunca tendo tempo para brincar ou passear com ela.
Um dia, quando o rei Midas encontrava-se sozinho trancado em uma das ricas salas onde costumava admirar suas valiosas jóias, notou a presença de um estranho que lhe sorria.
Surpreso, o rei Midas pôs-se a conversar com o estranho, a fim de descobrir como ele havia conseguido ali entrar.
A conversa, porém, tomou outro rumo e o rei Midas confessou ao estranho que seu maior desejo era ser capaz de transformar em ouro tudo que tocasse.
O estranho disse-lhe, então, que a partir da manhã seguinte seu desejo seria atendido, passando ele a ter o toque do ouro.
Como o estranho desapareceu sem deixar qualquer vestígio, o rei pensou ter sido tomado por alguma alucinação e imaginou como seria maravilhoso se seu sonho tornasse-se realidade.
Na manhã seguinte, quando os primeiros raios de sol invadiram seus aposentos, o rei esticou sua mão e tocou a coberta da cama que subitamente transformou-se em ouro puro.
Maravilhado com aquele prodígio, ele saltou da cama e correu pelo quarto, tocando em tudo o que ali havia.
O manto real, os chinelos, os móveis, tudo virou ouro.
Maravilhado o rei decidiu fazer uma surpresa para a filha e foi até o jardim e tocou todas as flores, transformando-as em ouro, certo de que isso alegraria também a pequenina áurea.
Quando voltou ao quarto percebeu, um tanto contrariado, que não mais conseguia alimentar-se, nem matar sua sede, pois tudo que suas mãos tocavam transformava-se imediatamente em ouro.
Nesse momento, áurea entrou no quarto do pai aos prantos, com uma das suas rosas na mão, dizendo-lhe que todas as suas flores encontravam-se naquele estado: sem vida, duras e feias, que não mais se podia sentir-lhes o perfume, nem mesmo a maciez das pétalas.
Ao notar a preocupação que tomou o semblante do pai, ela aproximou-se lentamente e o envolveu em um carinhoso abraço.
No mesmo instante, o rei Midas soltou um grito de pavor.
Ao tocá-lo o lindo rostinho da filha transformou-se em ouro brilhante, os olhos não mais viam, tampouco os lábios conseguiam beijá-lo.
Ela havia deixado de ser uma adorável e carinhosa menina para transformar-se em uma estatueta de ouro.
Desesperado, o poderoso rei, ciente de sua desdita, jogou-se ao chão percebendo que havia perdido o único bem que lhe era realmente importante.
Pensei muito nisso, nas últimas horas porque também eu, em inúmeras ocasiões, deixei-me levar pelas ilusões e pelos convites sedutores do mundo, desperdiçando minhas verdadeiras riquezas, meus reais tesouros.
Mas não me refiro a dinheiro, refiro-me a amores, paixões.
Desde pequeno sentia-me um peixe fora d’água, pouco a oferecer, rejeitado, sentimentos meus, talvez nem fosse verdade, mas eu sentia, e desejei do fundo do meu coração que eu fosse amado, amado por muitas pessoas, mulheres, queria sentir-me querido e aceito.
Trabalhei arduamente para moldar uma personalidade cativante, capaz de conquistar as pessoas, e logrei muito êxito, tanto com homens ou mulheres, colhi frutos profissionais.
Porém não percebia que meu desejo na verdade era como uma maldição ter mulheres me amando era bom, mas quando encontrei a mulher que resolvi amar, e resolvi me dedicar, continuei cativando outras mulheres, e de certa forma o faço até hoje, mesmo que hoje não seja intencional.
Alguns diriam que mal há nisso? Para mim há mal sim, porque nas minhas veias hoje corre sangue e não água e me preocupo com essas pessoas que cativei e se tornaram minhas “estátuas de ouro”, e que por serem estátuas não seguem suas vidas, vivem sempre a me procurar. Quero que elas tenham suas vidas, que se apaixonem e que sejam felizes, que amem outros, e me esqueçam...
- Olha só o homem que saiu da caixa falando sozinho.
- Estavas me ouvindo?
- Não peguei só o final, de que você falava?
- Falo do meu sentimento de hoje, sinto-me culpado por ter tantas estátuas de ouro, e pelo fato de não conseguir parar de produzi-las.
-Estátuas de ouro?
- Sim, relacionamentos, como Midas um dia achei que relacionamentos seriam tesouros, porém para mim hoje são uma maldição por me trazerem um sentimento de culpa.
- Culpa de que?
- De ter envolvido pessoas e de não ter me envolvido com elas, te tê-las usado para satisfazer-me apenas por puro egoísmo, e hoje ver que essas pessoas não seguem suas vidas e não me esquecem.
- As pessoas se envolveram com você porque queriam, não é?
- Sim, de certa forma, mas eu manipulava.
- Mentia?
- Algumas coisas sim, na maioria das vezes era bem sincero, às vezes omitia algum fato, mas sempre revelava.
- Então meu caro não se culpe, acho que é você que está preso as estátuas e não as estátuas a você?
- E porque as estátuas me procuram?
- Porque você não fechou a porta?
- Hãn?
- Termine!
- Terminar o que?
- Essa fase da sua vida, vire a página, esqueça, apague, siga em frente.
- Mas e as estátuas?
- Estátuas não falam.
Já me disseram várias coisas sobre remorso e perdão.
ResponderExcluirRemorso é quando a gente fica revivendo algo que nos fez mal.
Também me disseram que a gente não perdoa só os outros, mas é preciso perdoar-se a si mesmo.
Meu Deus, como isso é difícil!
Mas o final desse seu texto diz tudo. "Estátuas não falam".
Só quando a gente toma consciência disso consegue viver mais leve, mais livre.
Li um texto recente que dizia que, quando a gente pede perdão pra Deus toda vez pela mesma coisa ele se irriota. Não que ele não possa perdoar. Mas quando ele perdoa, ele esquece. E a gente insiste em ficar lembrando o que Deus já esqueceu.
Muito bom esse texto seu.